Proposta

Neste ano, o Crianceria completa um ano de trabalho voltado, principalmente, para a educação inclusiva. A experiência nesse campo da educação contribui para a reforma educacional, inaugurando novas formas de educar e repensando a escola como principal espaço humano na nossa cultura.

A proposta de educação oferecida pelo Crianceria é tecida no atravessamento entre a pedagogia e a psicologia, em um movimento transdisciplinar fundamental para o desenvolvimento da educação inclusiva.

Quando falamos em Educação Inclusiva estamos atravessando um termo mais amplo chamado Inclusão Social. A Inclusão Escolar é apenas uma das ações que compõem um processo social mais abrangente, que pode ser observado em escala global em uma série de dispositivos e políticas de inclusão de diferentes minorias. A “Conferência Mundial de Necessidades Educacionais e Especiais: acesso e qualidade”, organizada pela ONU, na Espanha, no ano de 1994, tem servido como diretriz para as políticas de Inclusão Escolar em diversos países do mundo. A Declaração resultante de tal Conferência prevê que as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais e emocionais (ONU, 1994). No Brasil, a Inclusão Escolar começa a aparecer em Leis a partir de 1996, como na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996). Sendo assim, podemos nos perguntar sobre o que as mudanças políticas, econômicas e sociais que ocorrem no mundo mobilizam a educação.

O trabalho de Acompanhamento Escolar (mediação ou facilitação) não atua somente no acompanhamento da criança na sua rotina escolar, mas também procura traçar caminhos possíveis para a construção de uma maneira de educar que, acompanhando as transformações do nosso tempo, acolha as diferenças em sua riqueza e diversidade. Incluir uma criança em um espaço escolar, inevitavelmente, representará mudanças para a escola e estas podem ser acolhidas como importantes oportunidades para a transformação de ambas (escola e criança).

Algumas vezes, definimos simplesmente como “mau comportamento” uma ação ou atitude da criança que fuja à regra ou vá de encontro a uma direção dada pelo adulto. Aqui tentaremos pensar esses comportamentos como desvios em que pode residir uma tentativa de traçar novos caminhos e direções. Os profissionais que atuam na interface entre educação e saúde devem estar atentos, na medida do possível, para estes desvios, não para impedir que apareçam, mas para utilizá-los como guia para o trabalho com a criança.

O trabalho de mediação procura construir pontes entre a criança e o meio social em que está inserida, que nesse caso é a escola. Assim, mediar/incluir não significa adaptar a criança a uma dada realidade pré-existente, visto que, quando a escola convoca a presença de um mediador, já está dado que a criança não adaptar-se-á a rotina proposta. O trabalho de mediação só renderá frutos se a ponte construída puder dar passagem a mudanças em ambos os pólos dessa relação. Se a criança aprende e se modifica no ambiente escolar através do contato com educadores, funcionários e colegas que habitam este espaço, também é necessário que a escola tenha a possibilidade de se transformar a partir da presença de uma criança que tenha dificuldades em se encaixar em um dado modelo educacional. Acreditamos que ambas (criança e escola) tem a ganhar com esse contato, já que a escola aí também encontra uma oportunidade para ampliar e diversificar suas ações educativas.

Segundo José Pacheco, fundador da renomada Escola da Ponte, criada há 28 anos em Portugal, a formação continuada dos educadores deve ser entendida, ela mesma, como uma mediação entre o saber dos professores e o dos alunos, já que se faz para os alunos na medida em que “tudo se reaprende quando se passa a estar com as crianças”. Para Pacheco, a formação dos educadores é, na realidade, a “verificação das dificuldades de ensino”. Dessa forma, a aprendizagem se dá como “um processo de mudança, no qual o saber resulta de uma transformação da experiência”.

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